Rendas “exageradas” e consumos de água geram revolta no Mercado de Braga

Os comerciantes do Mercado Municipal de Braga consideram “exagerado” o aumento das rendas para as novas instalações. A RUM auscultou alguns vendedores, esta terça-feira, no mercado provisório. Apesar de muitos desconhecerem a tabela de preços que o Município de Braga irá praticar nas novas instalações, a maioria afirma estar “muito descontente” com a atitude da autarquia.

“Vamos passar de 230 euros para 430. É muito caro”.

Manuel Pires trabalha no talho da família há 33 anos. No antigo Mercado Municipal de Braga pagava 230 euros pelo espaço. Agora, foi informado que por um talho duplo irá pagar 430 euros, mais despesas de água e luz. Contas feitas,acredita que no final do mês terá uma factura de aproximadamente 600 euros para pagar. 

“Temos um estabelecimento junto ao campus de Gualtar da Universidade do Minho com lugar de garagem e estacionamento à porta para os clientes. Uma zona considerada cara e pagamos 350 euros”, refere o talhante em jeito de comparação. O facto de na nova banca não ter contacto directo com o cliente também provoca algum desagrado.

Com o sector em crise devido à quebra nas vendas para restaurantes, Manuel Pires assume receio em relação ao futuro.

Basílio Silva, vizinho de banca, também cresceu no mercado municipal de Braga onde já os pais faziam a vida. “Sempre conheci o mercado com horário facultativo”, começa por explicar o talhante que já suspendeu a sua actividade no Mercado Municipal. A obrigatoriedade de marcar presença diariamente no novo espaço ditou a decisão.

O talhante explica que detém outro negócio em Famalicão e com a crise pandémica não tem recursos para contratar empregados. Diz também que o Mercado Municipal “não tem movimento para estar aberto desde as 7h00 às 17h00”. Por isso, decidiu recusar, para já, um lugar no novo espaço.

Contactada pela RUM, a vereadora com a pasta da Gestão e Conservação de Equipamentos Municipais, Olga Pereira, declara que os comerciantes do sector dos talhos têm sido os únicos a demonstrar descontentamento face aos preços divulgados pela autarquia. A responsável explica que no novo Mercado Municipal os comerciantes do sector dos talhos vão ter acesso a “um leque de serviços que não estavam à disposição anteriormente”, mais concretamente, cozinhas de uso exclusivo dos talhantes, salas de desmanche e fumeiros.

Segundo a vereadora, todas as valências elencadas foram solicitadas pelos vendedores na “fase de estudo de mercado”. No caso de Manuel Pires, com um talho duplo, estão em causa duas câmaras frigoríficas, duas cozinhas, uma sala de fumeiro e uma sala de desmanche, o que equivale a aproximadamente 50 metros quadrados, lembra.

Nove vendedores do sector das hortícolas já suspenderam actividade no Mercado Municipal de Braga

Paula Faria é a porta-voz dos comerciantes do sector das hortícolas. Em conversa com a Universitária refere que no seu caso a obrigatoriedade de marcar presença diariamente no mercado “não é um entrave”. No entanto, já nove colegas decidiram desistir do mercado bracarense, visto que têm “feiras melhores”.

No antigo Mercado detinha um espaço de cinco metros quadrados pelo qual pagava 70 euros. Agora, “as contas ainda não estão bem definidas”, mas ao que tudo indica irá ter uma despesa mensal de 90 euros.

“Podiam ter mais consideração pelos históricos do mercado”

Florinda Silva é florista no Mercado Provisório de Braga onde diz estar “feliz” apesar das baixas nas vendas. A feirante necessita de apenas três metros quadrados para as suas flores. No anterior espaço desembolsava perto de 45 euros. No futuro está a contar com uma factura na ordem dos 80 euros.

“É muito caro”, afirma Florinda que espera mais “consideração” da parte do Município de Braga para com “as pessoas que já estão há muitos anos no mercado”. Neste momento não tem intenção de colocar o seu lugar à disposição.

Pagamento de água e luz apenas nas lojas interiores e para os talhos também não agrada a todos

É uma reivindicação de Manuel da Silva, Teresa Falcão, Basílio Silva e Manuel Pires todos profissionais do sector das carnes. Os comerciantes garantem não entender o motivo que leva a que outros sectores, como peixaria e hortícolas, estejam isentos de pagamento, especialmente de consumo de água visto que são os principais utilizadores.

Em resposta, a vereadora com o pelouro da Gestão e Conservação de Equipamentos Municipais na Câmara Municipal de Braga informa que “os aumentos na taxa mensal já reflectem estas despesas comuns a todo o equipamento”, dado que não é possível num espaço com 70 comerciantes perceber o consumo de cada um. O valor em questão “é uma estimativa”.

No caso das peixarias, as mesmas estarão instaladas em bancas corridas ou em ilhas, o que impossibilita a instalação de contadores individuais.

Câmara de Braga prepara realização de hasta pública

O Município de Braga vai realizar uma hasta pública para a concessão de licença de ocupação dos lugares e locais de venda disponíveis no Mercado Municipal de Braga, após a atribuição de espaços aos comerciantes históricos que já marcavam presença no equipamento. O acto público terá lugar a 30 de Novembro, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Braga, com início às 16h00.

O Mercado contará, nesta fase, com 13 novos espaços disponíveis para comerciantes do sector alimentar, abrindo também a possibilidade de entrada de produtos que reflitam novas tendências alimentares. No total estão disponíveis cinco bancas para venda de flores e hortofrutícolas, dois talhos e seis lojas interiores.

O prazo de entrega de propostas decorre de 11 a 25 de Novembro e os interessados deverão entregar as propostas pessoalmente no Balcão Único da Câmara Municipal de Braga, localizado no edifício do Pópulo. 

 

Partilhe esta notícia
Vanessa Batista
Vanessa Batista

Jornalista na RUM

Deixa-nos uma mensagem

Deixa-nos uma mensagem
Prova que és humano e escreve RUM no campo acima para enviar.
Português Suave
NO AR Português Suave A seguir: Alumni pelo Mundo às 20:00
00:00 / 00:00
aaum aaumtv