Tem 72 anos e foi o primeiro aluno da Universidade do Minho

Chama-se Carlos Guimarães, tem 72 anos e os arquivos comprovam que é o primeiro aluno inscrito na história da Universidade do Minho.
A 16 de dezembro de 1975, a instituição de ensino superior minhota abriu pela primeira vez as suas portas, sendo que a sua instalação começou em fevereiro de 74, no Largo do Paço, em Braga. Uma década conturbada com a Revolução dos Cravos, a Guerra Colonial, uma tentativa de golpe de estado e muita instabilidade política. “Vocês não imaginam o que era o país em 1970”, refere.
Antes de chegar à academia minhota, onde frequentou o curso de Formação de Professores de Matemática, foi empurrado para a guerra em Moçambique, onde permaneceu por 28 meses a cumprir serviço militar como enfermeiro militar.
Em 1969, integrou a equipa responsável pela organização da última edição do Enterro da Gata sob a alçada do Liceu Sá de Miranda. Recorde-se que neste mesmo ano deu-se a Crise Académica, logo as festas na cidade dos arcebispos, nomeadamente os concertos e peças de teatro, no Theatro Circo, eram alvo de muitas atenções por parte da PIDE. Carlos Guimarães revela, aos microfones da Universitária, que vários colegas como Orlando Costa, foram perseguidos pela polícia política. As Monumentais Festas do Enterro da Gata foram recuperadas em 1989, data em que nasce também a Associação Académica da Universidade do Minho (AAUMinho).
Aquando da sua entrada na Universidade do Minho, Carlos Guimarães já era casado e exercia funções na Segurança Social. À época, a instituição de ensino superior minhota oferecia cursos de formação para docentes em: matemática, ciências da natureza, francês e português e inglês e português. No que toca às engenharias existiam cursos de têxtil e metalomecânica. As aulas eram lecionadas no Salão Medieval, mas também na atual Sede da AAUMinho.
Trabalhador-estudante, como vários outros colegas, sentiu muitas dificuldades. Poucos meses depois de ter iniciado a sua caminhada no ensino superior decidiu abandonar o curso. O motivo foram as propinas. “A maior parte dos meus colegas eram professores do ensino secundário. Eu chegava ao fim do mês e precisava do dinheiro. Eles como já eram docentes estavam isentos do pagamento das propinas”, relata.
No entanto, este momento de revolta não o afastou da universidade. Continua interessado pela vida da instituição, lê inúmeras notícias sobre a Universidade. Foi na UMinho que viu os três filhos: Alexandra, Cristina e João acabarem os seus percursos académicos em áreas distintas: educação, biologia e informática, respetivamente.
Desde os anos 70, a Universidade do Minho já escreveu várias páginas da sua história. Pelo Paço já passaram oito reitores e pelos campi da UMinho mais de 100 mil alunos. “Nunca pensei que chegasse aos 100 mil, agora, só espero que chegue aos 200 mil”, afirma.
Carlos Guimarães aproveitou o momento para deixar uma mensagem a todos os jovens que agora iniciam a sua caminhada no ensino superior. “Levem o ensino a sério. Sejam felizes. Espero que tenham mais sorte do que a que eu tive”, remata.
