Tratar dos bonequinhos pode curar o medo do Hospital e da bata branca

“A Leonor (boneca) tem um dói-dói no coração, ele faz pum pum pum, e o senhor doutor disse que vai tomar um brufen”. Letícia Faria era uma das muitas crianças que passaram pelo Hospital dos Bonequinhos, no primeiro dia de funcionamento, esta quarta-feira.

Até sábado, deverão passar por este hospital improvisado, na Biblioteca do Hospital de Braga, “entre 800 a 900 crianças”, prevê João Porfírio Oliveira, presidente do conselho de administração da unidade hospitalar.

A iniciativa, que é promovida pelo Núcleo de Estudantes de Medicina da Universidade do Minho (NEMUM), em parceria com o Hospital e o Município de Braga, pretende combater o medo que as crianças têm do ambiente hospitalar e da bata branca.

Braços partidos e dores de barriga são os diagnósticos mais recorrentes

Noa Rocha levou a sua boneca, Larinha, ao médico, porque tinha uma dor na mão. Depois de passar pela consulta dentária, pela imagiologia, as análises, a ala da nutrição, a farmácia, a consulta de psicologia, Noa levou a sua boneca até ao bloco operatório, mas, pouco depois, quis abandonar a cirurgia. “Ela magoou a mão e tem febre, olha vê?”, desafiou. A pequena Noa já tinha a solução para o problema da sua Lara: “Vamos lavar-lhe os dentes, porque ela comeu doces a mais”.

Na ala da nutrição, os profissionais de saúde, que são também estudantes da Universidade do Minho, desafiavam as crianças a distinguir os alimentos do bem dos que fazem mal. Chocolate, faz bem ou faz mal? Chocolate faz bem!, respondeu de imediato uma das crianças, provocando o riso na sala.

E o chocolate foi precisamente a maleita de que padecia o bonequinho de David Ribeiro. “O meu bonequinho está a doer-lhe a barriga, porque ele comeu muito chocolate, o senhor doutor cuidou dele e agora ele está bem”.

Logo ao lado, na farmácia, encontramos Tomás Pinto. O seu riscas estava magoado no braço e, por isso, precisava de comprimidos.

Na imagiologia estava já a Maria João, que detetou “pintas vermelhas na cara da sua boneca”. Alem disso, a boneca tinha um braço magoado, porque “caiu numa pedra, no outro dia”.

Tem sido assim, desde ontem e até ao próximo sábado, no Hospital de Braga. Um entra e sai de utentes de palmo e meio.

NEMUM ambiciona ver Hospital dos Bonequinhos ultrapassar as fronteiras de Braga

João Pedro Monteiro, presidente do NEMUM, explica que o Hospital tem dois grandes objetivos: “A desmistificação da bata branca e a formação e capacitação da comunicação dos estudantes”.

Por normal, reconhece o estudante de Medicina, “as queixas são aquelas que as crianças vão tendo”. “Há algum medo e desconforto associado às batas brancas e nota-se a diferença no percurso, o conforto é progressivo”, afiançou.

Para o presidente do conselho de administração do Hospital de Braga, João Porfírio de Oliveira, o facto de “ser o bonequinho a estar doente e verem o que lhe está a acontecer, bem como os passos que estão a ser dados, acaba por ser uma forma de interiorizarem que é normal e estas crianças vão olhar para o hospital de uma forma diferente”.

O feedback que chega das escolas, que se inscrevem previamente para participar, tem sido “muito positivo”. Ainda assim, o responsável considera que “faz sentido fazer um inquérito e perceber de forma mais científica os resultados”.

Sameiro Araújo, responsável pelo pelouro da Saúde na Câmara de Braga, explica que “o município cede o transporte a todas as escolas que queiram participar, porque é uma parceria que faz todo o sentido”. A autarca destaca a importância de todos os anos serem “introduzidas novas temáticas”, este ano, “a psicologia, numa altura em que a saúde mental está tão em voga”.

Para o presidente do NEMUM, “a perspetiva é crescer cada vez mais”. “Já fizemos novos investimentos e estamos a fazer novas parcerias. Adicionamos, este ano, psicologia e o objetivo é tentar criar mais parcerias e chegar cada vez mais longe, chamando, eventualmente, pessoas de outros locais”, apontou. Também o administrador do Hospital considera “haver margem para crescer, desde que seja de forma sustentada”.

Neste hospital improvisado na biblioteca da unidade hospitalar todas as doenças são possíveis. Aqui, até as enfermidades mais raras têm cura. Os utentes são, muitas vezes, personagens dos desenhos animados, peluches ou bonecas, que entram doentes e saem milagrosamente curados, fazendo com que os mais pequenos percam o medo da bata branca.

Ate sexta-feira, o Hospital dos Bonequinhos funcionará das 09h00 às 15h30, para os alunos das várias escolas do concelho de Braga, e das 16h00 às 17h30 , haverá livre acesso para o público em geral. No sábado, dia 19 de novembro, as portas voltarão a estar abertas ao público em geral, com um horário de livre acesso das 09h00 às 13h00.


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Liliana Oliveira
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