Virar a Página quer criar postos de trabalho e está a 30 mil euros de adquirir espaço

O Virar a Página está a recuperar duas habitações, para alojar refugiados. Além da cantina solidária, e das refeições que servem há dois anos a pessoas carenciadas, os voluntários procuram agora resgatar e ajudar os ucranianos, que fogem ao conflito armado que eclodiu na Europa a 24 de fevereiro.
“Há pessoas com os olhos muito marcados por terem estado a chorar”. Chegou a Braga, esta semana, o quarto autocarro com refugiados ucranianos a bordo. No seu interior, viajou uma senhora, acompanhada por uma criança de três anos e outros três jovens. “São filhos de uma amiga que teve que ficar na Ucrânia a cuidar da avó que está acamada”, revelou Helena Pina Vaz, diretora do CLIB e mentora do movimento solidário, que nasceu na pandemia e agora ajuda no resgate a refugiados da guerra na Ucrânia.
Esta é apenas uma das famílias que a guerra separou.
“Há uma carga emocional gravíssima por terem vindo partes de famílias”, apontou Helena Pina Vaz.
“O Virar a Página também está a servir para ajudar a virar páginas emocionais”
Helena Pina Vaz lembra que, em outros casos, os migrantes vinham para Portugal com toda a família e sem querer voltar atrás, mas, no caso dos ucranianos, “querem voltar, não sabendo como vão encontrar o país”. “O Virar a Página também está a aservir para ajudar a virar páginas emocionais”, afirmou.
Entre os que chegaram, há uma palavra que impera: o medo. “Medo de saber que o pai morreu ou que estão desaparecidos. Já temos vários casos em Braga de pessoas muito perturbadas, porque têm familiares desaparecidos há vários dias”.
A responsável alerta para a desorganização que se está a instalar no resgate de refugiados ucranianos e que está a originar “desperdício de recursos”. “No nosso caso, quando enviamos um autocarro fazemos sempre parcerias com alguém do lado de lá. No entanto, a maioria dos autocarros vai com boa vontade, mas completamente à toa. Já nos aconteceu de estarmos a chegar lá para trazer um grupo e um autocarro vazio, que chegou primeiro, trouxe-os a todos”, exemplificou a responsável, apelando à cooperação entre as entidades governamentais.
Por cá, o CLIB – Colégio Luso Internacional de Braga – foi uma das primeiras instituições a celebrar um protocolo com a Plataforma de Apoio os Refugiados, em 2015. A ajuda, explicou Helena Pina Vaz, não se contabiliza, mas já foi possível criar um posto de trabalho no Virar a Página, para o qual foi selecionada uma refugiada.
Entretanto, o número de voluntários do projeto tem aumentado e já conta com vários refugiados a ajudar outras pessoas na mesma situação. Entre os refugiados que chegaram esta semana está uma jovem nigeriana, estudante de Medicina, que procura uma oportunidade para prosseguir os estudos. A Braga já havia chegado um rapaz bielorrusso, “que se recusou a combater na Ucrânia”, que estudava Música e que foi integrado no Conservatório Bomfim.
Helena Pina Vaz apela à cooperação entre instituições para “juntos fazer a diferença”.
VAP quer criar mais postos de trabalho
Neste momento, o Virar a Página assegura um posto de trabalho, mas o objetivo é que possam ser criados mais. Helena Pina Vaz mantém a ambição de ver o movimento atingir “outra dimensão”. Para isso, estão já a ser dados os primeiros passos. Foram já feitas algumas candidaturas através da associação YAY, que gere o movimento e que “apoia jovens adultos com deficiência”. “Nas instalações, que havemos de conseguir adquirir, vai ser instalada uma cafetaria, que será o local de formação e trabalho desses jovens, e estamos a tentar montar uma gestão de stocks de bens, a ser gerido por esses jovens, que vão precisar de alguém que os oriente e, por isso, serão precisos profissionais dedicados a essa tarefa”, revelou.
Faltam 30 mil euros para adquirir espaço próprio
O aumento do número de pedidos de ajuda tem sido constante, sobretudo, impulsionado por esta crise humanitária, e o projeto aproxima-se já das 270 mil refeições servidas em aproximadamente dois anos. Por dia, são servidas duas refeições completas a cerca de 260 pessoas, por mais de duas centenas de voluntários.
Para conseguir continuar a ajudar, o Virar a Página precisa também de ajuda. O movimento está a 30 mil euros de conseguir adquirir um espaço próprio, no caso, o restaurante Luz Natural, espaço que têm ocupado de forma provisória e que custa 160 mil euros.
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